ORIGENS DO APELIDO BURNETT


Este apelido Burnett é bastante comum, quer no país de origem, Reino Unido, quer nos EUA, maioritáriamente.
Basta uma pesquiza no Google e aparecem imensas referências, o mesmo se passando no âmbito mais restrito da genealogia onde também aparecem muitas famílias com este apelido, algumas mesmo no espaço mais restrito da nobiliarquia, com brasão e tudo.

Para a nossa família, já não estamos limitados aos dados concretos de que dispunhamos, constantes no processo de casamento de Samuel George Burnett, constante na Câmara Eclesiástica de Lisboa, e que nos permitiram encontrar os assentos de rebaptismo católico e do casamento.

Assento de batismo na freguesia de S. José - Lisboa - Torre do Tombo - Livro 18 B a fls 176 - rolo SGU 1187 - Item 2

"Aos vinte e seis dias do mes de Junho de mil oito centos e quarenta e seis annos me foi apresentada uma Ordem do Ill.º Rev.º e Ex.º Senhor Arcebispo de Mytilene Provisor e Vigario Geral desta Dioceze de Lisboa e ? Patriarchado, na qual me mandou lavrar o assento de Samuel digo o assento de baptismo de Samuel Jorge Burnett o qual lavro da forma seguinte: = Aos dois dias do mes de Junho de mil oito centos e quarenta e seis annos justificou na Camara Eclesiastica Samuel Jorge Burnett ser filho de Mathews e de Ursula Burnett, nascido na Cidade de Londres aos dezoito dias do mez de Setembro do anno de mil oito centos e dezoito annos e de seguir a Religião Luterana e da ? foi baptizado na Religião Catholica Apostolica Romana na Igreja do Seminario Ingles de S. Pedro e S. Paulo nesta Cidade de Lisboa em vinte e seis do mez de Agosto do anno mil oito centos quarenta e trez e foi padrinho deste batismo = João Campbell Andresen e foi madrinha Nossa Senhora. E em comprimento da respeitavel Ordem do M.º e Ex.º Senhor Arcebispo de Mytilene Provisor eVigario Geral de Lisboa a data do ? averbado de que fiz este assento que assigno ..."

Assento de casamento na freguesia da Pena - Lisboa - Torre do Tombo - Livro 20 a fls 302, registo n.º 17 - rolo SGU 1049 - Item 2

"Aos seis dias do mez de Agosto d' anno de mil oito centos quarenta e seis nesta Cidade de Lisboa e Parochial Igreja de Nossa Senhora da Pena na minha presença e das testemunhas abaixo assignadas na forma do direito, e com palavras de presente se receberão por marido e mulher Samuel George Burnett, solteiro, natural da Cidade de Londres, baptizado nesta Cidade no seminário dos Ingleses, com assento na Freguezia de S. José, aonde é morador, filho de Mathews e Ursula Burnett, com Francisca Rosa do Nascimento, solteira, baptizada, moradora nesta freguezia, filha de Manoel José Baptista, e de Maria da Conceição. Forão testemunhas presentes João Ribeiro Subtil, cazado, morador no Arco ?, Freguezia da Sé e José Maria de Seabra, solteiro, morador na rua de S. José, os quaes comigo assignarão este termo que fiz para constar. Era ut supra ..."

Embora já referidos nos assentos de baptismo dos filhos, confirma-se assim que afinal ele nasceu em Londres e não em Brighton, como até então a tradição oral nos tinha convencido, e ser filho de Mathews e Ursula Burnett.

Já enconrei o assento de baptismo de Samuel George Burnett em Londres, em 18 de Novembro do mesmo ano, na Igreja de St. George the Marthyr, Quenn Square, Camden, Bloomsbery " Assento de batismo - P82/GE02, Item 003 - Church of England Parish Registers, 1754-1906 - London Metropolitan Archives - St. George the Martyr - Queen Square"

Samuel George é filho de Mathew Burnett e de Ursula Taylor Traylen, casados em 5 de Março de 1817 na Paróquia de St. James - Clerkenwell, registo n.º 737, a fls 246, London, England, Marriages and Banns, 1754-1921.

Encontrámos a indicação do registo de batismo de Ursula Taylor Traylen Bt Trayling, em 1788, em West Wickhamm, Cambridgeshire, Parish Records Collection 1538-2005, mas ainda não conseguimos visualizar o teor do registo e assim saber dos seus pais..

No respeitante a Mathew Burnett, o caso é mais complicado dado termos encontrado vários registos com possibilidade de serem válidos, mas não temos meios para escolher o que realmente nos interessa. .

Também por tradição oral, parece que Samuel George teria vindo como especialista em cavalos para a corte, mas nas minhas pesquizas na Torre do Tombo, ainda não consegui encontrar o seu nome nas listas de pessoal ao serviço da casa real, o que não quer dizer que o não tenha sido e que apenas ainda o não consegui encontrar.

Mas a referência a cavalos tem sustentação, pois no assento de baptismo do seu filho homónimo Samuel, em 1872, consta que o pai era cocheiro.

Curiosamente, este mesmo filho Samuel, também aparece como cocheiro no assento de baptismo da filha Henriqueta, em 1873, sendo que, em 1875, no assento de baptismo da filha Elisa, e daqui em diante, já conta como creado de servir.

Vemos pois que existem registos de que os Samuel pai e filho eram ou foram cocheiros, portanto, ligados a cavalos.

Mas vamos um pouco mais além, na medida em que, também por tradição oral, Jorge Burnett, o primogénito de Samuel George, teria sido funcionário da Mala Real, supostamente a conhecida Mala Real Inglesa, mas que agora temos razões para supor que seria afinal cocheiro na Malaposta, antecessora dos actuais Correios, a qual se servia de carruagens para fazer a distribuição da correspondência e encomendas.

Esta suposição reforça-se nas notas constantes na agenda pessoal de Jorge Burnett, onde aparecem apontamentos que indiciam actividade deste tipo.

Acontece que a Malaposta foi desactivada em 1871, com o advento do caminho de ferro, o que sugere uma explicação para que Samuel filho ter passado de cocheiro para creado de servir nessa altura, bem como estas notas de Jorge Burnett:

Jorge Burnett passei para caixeiro da Loja em 11 de Outubro de 1876 .
No dia 16 de Maio de 1878 Comprei a 1ª Carroça com o Cavallo Tigre por 20 Libras e meia.
No Dia 19 de Fevereiro de 1879 comprei o maxo ispanhol o Zacarias com 5 annos e meio estáme em 102.000.
No dia 6 de Setembro de 1879 princepiou a Carroça a trabalhar que Comprei o meu cunhado abadinho por 14 Libras.
No dia 5 de Junho de 1881 Estriou o arreio novo que foi atte a feira de Sacavem impurtou em 1800 e dei o arreio velho por 4500 tutal 22.500

Todos estes elementos parecem combinar-se para mostrar uma convergência indiciadora de que estes Burnett estiveram ligados a esta actividade, provavelmente na Mala Real até esta falir, tendo Jorge continuado por conta própria.

Eventualmente Samuel George teria vindo de Inglaterra nos anos 30, não para a casa real mas sim para a Mala Real, hipótese que uma visita recente ao Museu da Fundação das Comunicações de Portugal, ao Cais do Sodré, em Lisboa, veio revelar mais factos que, não constituindo prova concreta, reforçam as anteriores suposições, assim:

Foram consultadas diversas fontes de onde se pode ficar com um panorama histórico sobre a evolução dos transportes públicos ao longo dos tempos, em geral, e em particular no nosso país, mas que nos escusamos de aqui nos espraiarmos, pois não é este o local indicado para o fazer.

Reportando-nos ao período que nos interessa, uma obra - A MALAPOSTA EM PORTUGAL - algumas notas para a sua história, coligidas por GODOFREDO FERREIRA - Chefe de Repartição dos CTT - 1946, FCP cota CO/40.4 - encontramos no Capitulo VII - ÓNIBUS DE LISBOA PARA BELÉM, BENFICA, SINTRA, LUMIAR, POÇO DO BISPO, MAFRA, OEIRAS, CARNIDE, LOURES, CASCAIS - 1835 A 1865 - encontramos uma referência a D. Fernando que em 1836 subscreveu como sócio da então criada Companhia das Carruagens Ónibus, um dos vários exemplos da intensa actividade empresarial que este monarca desenvolveu a expensas suas, contribuindo assim para o progresso do país.

Noutras pastas de arquivo dessa Companhia das Carruagens Ónibus, encontram-se bastantes documentos interessantes, nomeadamente as compras de carruagens em França e em Inglaterra, neste período da segunda metade dos anos trinta, e que teremos que passar a pente fino para ver se encontramos alguma referência a pessoal que tenha vindo a acompanhar essas carruagens.

De qualquer modo, faz sentido e bate certo com as tradições orais que sugerem que o patriarca Samuel teria vindo a pedido do rei para tratar de cavalos, ou carruagens, diremos agora.

Por motivos diversos, mas normalmente pelo mau estado das estradas, a maior parte das empresas que se dedicaram aos trannsportes em carruagens puxadas a cavalos, viveram momentos difíceis e a maior parte acabou por falir, como aconteceu com esta dos Ónibus, extinta em 1865.

É assim muito provável ter havido bastante migração do pouco pessoal especializado nesta área, entre empresas, acompanhando os altos e baixos da saúde empresarial.

Regressando à obra acima citada, na secção MALAPOSTA DE ALDEIA-GALEGA A BADAJOZ - 1852 A 1863, a fls XI e XII, encontramos um interessante relato de um cidadão francês acerca da sua viagem em carruagem de Madrid a Lisboa, de que destacamos a seguinte passagem: "... Numa das mudas (relais) subi para a imperial para melhor gozar o aspecto da paisagem e a frescura marítima que começávamos a respirar, e a minha admiração não foi pequena ao encontrar-me ao lado de um grande cocheiro normando, que entrou imediatamente em conversa e me contou a sua odisseia. Durante a regência de D. Fernando, veio para conduzir os cavalos da mala-posta; seduzido provavelmente por qualquer morena portuguesa e certamente pelo vinho do país, não regressou à sua terra. Sua boa disposição não sofreu com a mudança do clima; tomou pela influência do sol peninsular atitudes picarescas, que eram postas em relevo por uma linguagem da sua lavra quási incompreensível para toda a gente, não obstante ele afirmar que era português. ..."

Este relato encaixa perfeitamente no nosso quadro de hipóteses, embora não constitua prova bastante, por ser impessoal.

Reforçando a nossa linha de ligação dos Burnett às carruagens, verificamos que a grande maioria dos assentos de batismo e casamento desta família, tiveram lugar no eixo Acantara - Belém - Benfica, onde se situavam as estações principais de apoio à Companhia dos Ónibus.

Mudando de registo, na mesma agenda de Jorge Burnett consta:

Meu Pai inprestome pª o meu negocio em 1 de Julho de 1886 100.000 Deume este Dinheiro de Sua Livre Vontade para eu principiar com o meu negocio Fica aqui o meu agradecimento Jorge Burnett
Estabelecime com officina de canteiro em 5 de Janeiro de 1886 na R. de Sto António da Gloria a praça da alegria e modei para a R. do Outeiro N.º 15 a S. Carlos no 1º de Julho de 1887.

Encontramos aqui o ponto de mudança da actividade de "correio" para a de canteiro, sendo que se especializou em construção de jazigos, dos quais conheço apenas o da própria família no cemitério dos Prazeres em Lisboa, mas tenciono procurar mais jazigos por ele construídos, nesse e noutros cemitérios desta cidade.

Não tenho a possibilidade de encontrar dados sobre o seu envolvimento como canteiro, embora admita como hipótese uma influência de Augusto Désirat e Anatole Calmels, de famílias vizinhas, e sendo que o seu genro José Désirat Monteiro, meu avô materno, era possuidor de uma serração de mármores no Sabugo, nos anos 20 do século passado, e de onde saíram os materiais com que construíu a casa na Quinta da Rainha de Santa Isabel, na Baratã, não longe do Sabugo, no início dos anos 30 e onde passei a minha meninice até ao final da 2ª Guerra, Baratã.

Não encontrei até agora na nossa família, qualquer descendente de apelido Burnett, pois ao que parece, só tivémos descendência feminina, pelo que este apelido foi progressivamente desaparecendo,

Não deixa no entanto de ser curioso que um descendente pelo lado de Henriqueta Burnett, actualmente Francisco Bessa de Carvalho, continuar a tradição equestre dos Burnett, tendo uma coudelaria às portas de Lisboa. centro equestre

Actualizado em Jul 2008